|
Síndrome geralmente está relacionada à
manutenção inadequada dos sistemas de
ar condicionado (Foto: Reprodução / TV Tribuna) |
Quando sintomas como
ressecamento da mucosa nasal, nariz entupido, lacrimejamento, coceira nos olhos
ou na pele, dores de cabeça e náuseas aparecem exclusivamente no horário
comercial - e o médico não consegue diagnosticar nenhuma doença específica - é
possível que as causas do problema estejam no ambiente de trabalho. Se mais de
20% dos funcionários de um edifício relatam sentir os mesmos sintomas, pode ser
um caso da chamada "síndrome do edifício doente".
Essa síndrome, que começou a ser estudada na década de 1970, está
frequentemente relacionada ao sistema de refrigeração ou de aquecimento dos
edifícios. Ela pode ser provocada pela presença de bactérias, vírus ou fungos
em sistemas de ar condicionado sem manutenção adequada; de produtos químicos
dispersos no ar ou de poeira acumulada em carpetes ou cortinas.
Fatores como temperatura
inadequada, velocidade do ar e umidade abaixo ou acima do recomendável também
estão relacionados à síndrome, de acordo com o médico Clovis Chechinel, do
setor de Medicina do Trabalho do Delboni Auriemo Medicina Diagnóstica.
A principal característica observada em situações de síndrome do edifício
doente é que os sintomas tendem a melhorar quando a pessoa sai do ambiente de
trabalho, de acordo com o médico João Silvestre da Silva-Junior, diretor
científico da Associação Paulista de Medicina do Trabalho (APMT). “Uma coisa
muito comum nesses casos é que, na segunda-feira, a pessoa geralmente está
melhor, mas na sexta-feira, está péssima. A fadiga é um sintoma encontrado com
bastante frequência: não o cansaço normal, mas o cansaço do corpo tentando se
defender de todas essas agressões”, diz.
Os especialistas explicam que a síndrome do edifício doente não provoca
diretamente nenhuma doença específica, mas abre o caminho para infecções
bacterianas ou virais e para doenças respiratórias, como bronquite, asma ou até
pneumonia.
|
Fotos mostram ar-condicionado antes da limpeza
(em cima) e depois da limpeza (embaixo); acúmulo
de sujeira pode levar a vários sintomas
(Foto: Hideraldo Esteves/Airtemp/Divulgação) |
Edifício doente
As causas da má qualidade do ar no ambiente interno que são capazes de levar
aos sintomas da síndrome do edifício doente podem estar ligadas à falta de
manutenção dos sistemas de ventilação. Hideraldo Esteves, diretor técnico da
empresa de manutenção de ar-condicionado Airtemp, conta que já atendeu casos em
que o acúmulo de sujeira no sistema de ventilação do edifício já estava
provocando mal estar nos ocupantes do prédio.
“Muitas empresas não adotam a prática de manutenção programada e só chamam
quando têm algum tipo de problema. Nesses casos, encontramos os filtros bem
obstruídos, com grande quantidade de sujeira e até mal cheiro”. Esteves
já ouviu funcionários de empresas reclamando de dor de cabeça, irritação nos
olhos e sintomas de resfriado.
Ele explica que o excesso de sujeira nos filtros pode prejudicar a captação do
ar externo, o que leva ao aumento no nível de dióxido de carbono (CO2) no
interior, principalmente nos prédios fechados, sem janelas. “Isso pode levar a
uma sensação de sonolência e de ‘ar pesado’ no ambiente de trabalho”, diz.
Uma manutenção adequada do sistema de ventilação, segundo Esteves, inclui a
limpeza dos filtros, a higienização das serpentinas com produtos
antibacterianos e a limpeza da bandeja para não haver acúmulo de água e risco
de proliferação de fungos.
Recomendações
Segundo Silva-Junior, trabalhadores que têm sintomas que só aparecem no
ambiente de trabalho devem procurar o serviço médico de sua empresa para
relatar o caso. Dessa forma, a empresa pode identificar se existe uma queixa
comum entre os funcionários e fazer uma investigação das possíveis causas.
“É importante não encarar esse tipo de problema como uma fragilidade
individual, porque pode ser uma reação do organismo a esses fatores externos.
Só tem como a empresa ficar sabendo se os funcionários relatarem os casos ao
serviço médico”, diz o médico.
As empresas devem fazer uma manutenção periódica dos sistemas de climatização e
observar se existe a presença de substâncias tóxicas no ar ambiente,
provenientes de produtos de limpeza ou do próprio mobiliário.
No Brasil, a qualidade do ar de ambientes internos deve atender a normas
estabelecidas pela Anvisa. Uma portaria publicada em 1998 estabelece que todos
os ambientes climatizados artificialmente de uso público devem manter um plano
de manutenção e controle dos sistemas de condicionamento de ar. Uma resolução
publicada pela agência em 2000 determinou os padrões de referência de qualidade
do ar interior.
Caso
histórico
Um caso extremo de síndrome do edifício doente aconteceu na Filadélfia, nos
Estados Unidos, em 1976. Durante uma convenção da Legião Americana de
Veteranos, que reuniu mais de 4 mil ex-soldados no Bellevue Stratford Hotel, os
participantes começaram a adoecer misteriosamente, apresentando tosse, febre e
dificuldade para respirar.
Quatro
dias depois da convenção, um dos veteranos que tinha participado da convenção
morreu. Outras 28 pessoas morreram em seguida. A causa da doença misteriosa –
depois se descobriu – foi a presença da bactéria Legionella pneumophila no sistema de
ventilação do edifício.
Em
1982, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um relatório sobre a
síndrome do edifício doente, no qual o problema foi relacionado principalmente
com os sistemas de ventilação dos edifícios e com a presença de carpetes e
cortinas, além de substâncias poluentes no mobiliário dos edifícios.
Fonte:
G1