Mudanças na forma de
organização do trabalho estão entre as principais medidas para se reduzir os
números de acidentes e adoecimentos entre os trabalhadores, segundo
especialistas. O modelo atual, com exigências de produtividade cada vez maiores
e cumprimento de metas abusivas, afeta milhares de pessoas, em quase todos os
setores, com números alarmantes de vítimas fatais.
"Cada ramo econômico e
empresa tem uma forma de funcionar, mas todas tem em comum a exigência por
produtividade visando lucros cada vez mais altos, desconhecendo as condições
reais de cada trabalhador. Existem ramos econômicos onde as metas aumentam a
cada dia, é isso adoece, porque a pessoa nunca cumpre o que a empresa espera
dela", afirma a médica e pesquisadora Maria Maeno, especialista em
segurança do Trabalho da Fundacentro.
Discutir a atual relação de
trabalho, em vez de criar medidas "rasas" e "superficiais",
é o ponto central, evitado pela maioria das empresas, segundo Maeno.
"Nenhuma empresa admite discutir metas, a maioria quer resolver de forma
simples o que não é simples, e prefere criar salas de descompressão, ginástica
laboral. Isso não vai resolver, temos de mudar totalmente a lógica, considerar
o fator humano no contexto do trabalho. Essas são premissas básicas, que exigem
uma construção continuada, mas que está muito longe de se alcançar."
Segundo estimativa da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), 2,34 milhões de pessoas morrem a
cada ano devido a acidentes e doenças relacionadas ao trabalho e cerca de 160
milhões adoecem. De acordo com o Ministério da Previdência Social, em 2012,
último dado disponível, foram registrados 705.239 acidentes, ante 720.629 no
ano anterior. O número de trabalhadores mortos em 2012 chegou a 2.731, e 14.955
pessoas ficaram permanentemente incapacitados para o trabalho.
Segundo Maria Maeno, ainda
se registra grande número de acidentes originados por quedas e eletrocussão. O
surgimento de casos de doenças músculo-esqueléticos, como as Lesões por
Esforços Repetitivos/Doenças Ósteomusculares relacionadas ao Trabalho
(LER/Dort), aumentaram nas décadas de 1980 e 1990. Desde então, o aparecimento
de doenças por transtornos psíquicos ganharam destaque, justamente pela pressão
e o assédio por aumento da produtividade. "Há ainda doenças que são
relacionadas ao trabalho, mas não são caracterizadas como tal, como as doenças
gastrointestinais, cardiovasculares e até o alcoolismo", completa.
Fonte: Jus Brasil
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