O volume de problemas
decorrentes de um acidente ou doença com origem no exercício profissional é
mais amplo do que o dano imediato de uma determinada ocorrência. E a
recorrência desses impactos no mundo do trabalho é um problema de Estado, e não
de governo. Essas constatações permearam um seminário pelo Dia Mundial em
Memória às Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho, realizado ontem na
Federação do Comércio de São Paulo.
Entre os sintomas de doenças
causadas pela cobrança abusiva de metas, a terceirização, o assédio moral –
causas apontados inclusive como responsáveis por mortes decorrentes de uma
ambiente de trabalho nocivo – estão a perda de autoestima e da capacidade de
interação social. A autodestruição pode levar à depressão e ao alcoolismo,
problemas que também repercutem entre os familiares.
"Casos de trabalhadores
que perdem a mobilidade, que passam a ter problemas de comunicação, com maiores
gastos, perda de renda, são apenas exemplos de problemas que podem causar
traumas para todos. São imensuráveis os impactos sociais disso", diz o
pesquisador Celso Amorim Salim, da Fundacentro, autarquia vinculada ao
Ministério do Trabalho e Emprego.
Segundo ele, a preocupação
cresce porque a tecnologia, os conhecimentos, e as pesquisas são capazes de
detectar a origem dos problemas, mas as relações de trabalho ainda não criaram
condições de se colocarem em prática as soluções possíveis, entre elas a
adequação dos recursos tecnológicos e das políticas de gestão aos limites da
condição humana.
A solução passaria por um
envolvimento de todos os setores – representantes de trabalhadores, das
empresas, dos poderes públicos e de especialistas. “Não é problema do médico,
do engenheiro ou do técnico de segurança. Acidentes e mortes no trabalho não
acontecem por acaso, são evitáveis. É um problema político que deve ser
resolvido pelo conjunto da sociedade”, disse o assessor da Secretaria de Saúde
da CUT, Gilberto Salviano.
Segundo estudo apresentado
pela central, nos últimos 42 anos aconteceram aproximadamente 38 milhões de
acidentes de trabalho, sendo cerca de 560 mil com incapacidade permanente.
Quando distribuídos por região, 386.904 acidentes foram contabilizados na
região Sudeste, dois terços deles no estado de São Paulo. Segundo informações
do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 15ª Região, 51% de todas as ações
trabalhistas do país têm origem em São Paulo, a maioria relacionadas a impactos
na saúde.
O superintendente Regional
do Ministério do Trabalho e Emprego de São Paulo, Luiz Antônio de Medeiros,
explica que o estado concentra mais de 50% da produção do país, por isso tem um
desafio maior no enfrentamento desses problemas. “Prevenção não é despesa, mas
investimento. Estado e empresas vão gastar menos se não houver acidentes. Temos
de conscientizar os empresários e trabalhadores. Vamos começar reuniões
tripartites para estabelecer, em curto prazo, metas de redução de acidentes”,
afirmou.
Em maio, o Ministério do
Trabalho e Emprego pretende lançar um programa de combate à informalidade no
país, outro fator degradante para saúde do trabalhador. Segundo o ministro
Manoel Dias, as estatísticas tendem a ocultar um cenário ainda pior, já que não
incluem dados do setor informal, nem do funcionalismo público. “Vamos alcançar
todas as empresas, especialmente as menores, com as tecnologias que temos
disponíveis para isso. Com isso vamos conhecer outros números, a exemplo do que
está acontecendo com o trabalho escravo e trabalho infantil, que não aumentaram
mas se tornaram conhecidos devidos às ações de fiscalização desenvolvidas”.
O Ministério Público do
Trabalho (MPT), por sua vez, informa ter elaborado projetos destinado à
melhoria da condições de trabalhado em setores altamente vulneráveis, como
construção civil e pesada, sucroalcooleiro e frigoríficos, e ao banimento do
amianto. “O trabalhador deve ser visto como sujeito no ambiente do trabalho e
não como objeto, visado apenas para aumentar os lucros”, disse a
procuradora-chefe do MPT-SP, Cláudia Regina Lovato Franco.
"Acidentes são eventos
socialmente determinados. São previsíveis e possíveis de prevenir. Estão por
trás dessas mortes prazos de entrega, obsessão por resultados, flexibilidade e
falta de democracia nos locais de trabalho. Precisamos refletir", diz o
pesquisador Ildeberto Muniz de Almeida, Saúde Pública da Faculdade de Medicina
de Botucatu.
Fonte: TRT 12º
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário ou dúvida, que entraremos em contato!