O brasileiro é muito
criativo, mas não apenas para o bem, como se vê nessa pequena coleção de
histórias de horror
São cada vez mais frequentes
as ações por assédio moral na Justiça do Trabalho, e os tribunais têm
respondido com condenações mais pesadas e até com decisões preventivas.
As denúncias demonstram
procedimentos cada vez mais absurdos, como o de exigir que os trabalhadores que
não atingissem suas metas fizessem flexões de braço durante as reuniões (em São
Paulo), ou o de obrigar uma funcionária gaúcha a vestir-se de galinha,
cacarejar e bater as asas em frente aos colegas. Há pouco tempo ficou famoso o
caso de uma rede de hipermercados que fazia seus funcionários cantarem e
dançarem seu hino motivacional, e inclusive rebolarem durante a música.
Em decisão inédita no início
desse ano, atendendo a pedido do Ministério Público do Trabalho (MPT) em Sorocaba,
SP, a justiça determinou o afastamento do diretor de uma faculdade, acusado de
ofender regularmente seus subordinados com expressões como “lerdos, meliantes,
incompetentes, lesmas, burros, vagabundos e incapacitados para o trabalho”. O
afastamento foi determinado para preservar a saúde física e mental dos
trabalhadores, pois alguns já apresentavam distúrbios psíquicos.
Gestão
por injúria
Assédio moral organizacional
ou institucional é como são chamadas as práticas das empresas que se utilizam
de gestão de pessoas por injúria (ofensas), estresse ou medo, com a finalidade
de obterem vantagens financeiras. Grandes adeptos dessa prática cruel, os bancos
brasileiros têm sido alvo de diversas ações propostas pelo MPT.
Em janeiro de 2014, o MPT do
Piauí entrou com ação civil pública pedindo a condenação de um grande banco em
R$ 10 milhões pela cobrança excessiva de metas, feita através de mensagens de
celular enviadas pela superintendência da instituição. Alguns trabalhadores
chegavam a receber mais de 80 SMS diários, inclusive em horário de almoço, de
madrugada e aos finais de semana, redigidos em tom irônico, ameaçador e até
agressivo. Ainda em janeiro, uma unidade desse mesmo banco em Salvador, BA, foi
condenada a pagar R$ 2 milhões por cobrar metas por meio de ameaças,
ridicularização, isolamento e colocação de apelidos depreciativos nos
trabalhadores.
Às vezes, algumas atividades
de “motivação” acabaram resultando em assédio. Foi o que ocorreu com o funcionário
de uma fabricante de bebias de Curitiba, PR, que era obrigado a ver garotas de
programa se despirem em sua frente, a esfregar óleo em seus corpos e a assistir
filmes pornográficos nas reuniões que ocorriam às 7h da manhã. Esse “incentivo”
ainda incluía um vale-programa a quem batesse as metas, o que atingia a
dignidade daquele funcionário, casado e religioso.
Uma unidade do Rio Grande do
Norte dessa mesma fabricante de bebidas fazia com que os vendedores com pior
desempenho deitassem em caixões, e os representava, nas reuniões, através de
ratos e galinhas enforcadas.
Já no Mato Grosso, uma
engarrafadora de refrigerantes “homenageava” sua equipe de vendas com dois
troféus, o Tartaruga (conferido ao vendedor com menor resultado, ainda que
tivesse batido a meta) e o Lanterna (presenteado ao que atingisse o menor
rendimento).
Sem
banheiro
Mas não é apenas com ofensas
e ameaças que se assedia no Brasil. Uma modalidade que se tornou muito comum é
a de proibir funcionários de utilizar o banheiro durante o horário de expediente,
limitar seu tempo de utilização ou exigir pedido de autorização, por escrito,
para que possam fazê-lo. Além do evidente constrangimento aos trabalhadores, há
aqueles que desenvolveram doenças do trato urinário e os que acabaram sujando
as calças por não conseguirem segurar.
No meio rural, é frequente
os empregadores não fornecerem banheiros químicos aos trabalhadores da lavoura,
que têm que fazer suas necessidades ao ar livre. Já nas cidades, a privação do
uso do banheiro ganhou contornos diferentes, mas igualmente vexatórios.
Como não permitia a ida das
funcionárias dos caixas ao banheiro, o gerente de um hipermercado de Fortaleza,
CE, teve a infeliz ideia de obrigá-las a utilizarem fraldas geriátricas durante
o expediente. Já um maquinista de trem, que não podia parar o veículo para utilizar
o banheiro, fazia suas necessidades em copos e garrafas de plástico que a
própria empresa fornecia e chamava de “kit higiênico”. Nas trocas de turno, o
maquinista encontrava a cabine da locomotiva suja com fezes e urina do operador
anterior, já que a utilização do “banheiro” tinha que ser feita com o trem em
movimento.
Ociosidade
forçada
Outra modalidade de
humilhação que tem se tornado comum consiste em impedir o empregado de trabalhar,
embora seu salário continue sendo pago.
Exemplos disso não faltam,
como o do operador de empilhadeira mineiro que, como punição por ter derrubado
algumas peças que carregava, teve que ficar em casa, recebendo salário, o que o
tornou alvo de piada entre os colegas. Ou a do vendedor da empresa de refrigerantes
de Santa Rita do Sapucaí, MG, que foi proibido de realizar suas vendas,
prejudicando assim o recebimento de sua comissão. Ou ainda a da operadora de
telemarketing de Goiás que, após voltar da licença maternidade, descobriu que
sua senha de acesso ao sistema havia sido bloqueada, e era forçada a cumprir
sua jornada sem realizar qualquer atividade.
Em Blumenau, SC, uma
funcionária de empresa de vigilância teve que ficar três meses em casa, sem
trabalhar, e os cartões de ponto eram levados até ela, para que os assinasse.
Um vigilante de uma universidade de Piracicaba, SP, foi deixado de “molho” por
três meses no escritório, sem que pudesse realizar suas rondas de motocicleta.
Show
de horrores
Talvez alguns dos casos mais
grotescos de assédio moral de que se tenha notícia foram praticados numa das
maiores empresas de refrigerante do nordeste. A situação era tão absurda que o
próprio Ministério Público só acreditou nas denúncias após ouvir vários depoimentos,
todos comprovando as ocorrências.
O gerente de vendas da
empresa, sádico e desajustado, ofereceu uma funcionária como “prenda sexual”
aos trabalhadores que haviam atingido suas cotas de venda, e chegou inclusive a
queimar, com um isqueiro, as nádegas de outra funcionária, que o denunciou.
Mas a estupidez não parava
por aí. Os funcionários que não alcançavam suas metas sofriam as mais diversas
humilhações, como: não poder se sentar durante reuniões, ter um bode amarrado
em sua mesa de trabalho, dançar na frente de colegas, usar saias e camisetas
com frases ofensivas escritas, usar roupas de palhaço e carregar pênis de
borracha perante os colegas.
Essa é uma pequena amostra
de tantos casos absurdos que ocorreram – e ainda ocorrem – em nosso mercado de
trabalho.
A empresa deve fornecer um
ambiente de trabalho saudável aos seus funcionários, e é responsável pelo
assédio moral não somente se praticá-lo, mas também por permitir que ele seja
praticado, independente se tem ou não conhecimento dos fatos.
É dever da empresa,
portanto, se empenhar em eliminar essas práticas absurdas!
Fonte: Revista Norminha
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