quarta-feira, 6 de março de 2013

AUDIÊNCIA EM JARAGUÁ DO SUL DEBATE FORMAS DE COMBATE ÀS LESÕES RESULTANTES DO TRABALHO REPETITIVO



Frente Parlamentar em Defesa da Saúde do Trabalhador tem atuado para garantir condições dignas à todos/as trabalhadores/as

Escrito por: Sergio Homrich

Com a determinação de transformar Santa Catarina em um estado sem LER (Lesão por Esforço Repetitivo) a Frente Parlamentar em Defesa da Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, presidida pelo deputado estadual Neodi Saretta (PT), promoveu Audiência Pública para debater a cruel realidade da saúde dos trabalhadores de Jaraguá do Sul.

A Audiência aconteceu dia 28 de fevereiro, à noite, no auditório do Sindicato dos Trabalhadores do Vestuário e foi a primeira de uma série de cinco a serem realizadas até o final do ano em outras regiões do Estado.

Além de trabalhadores e trabalhadoras com LER também estiveram presentes dirigentes sindicais de toda a região, presidentes de federações de trabalhadores, representantes do governo do Estado, da federação patronal, a Fiesc, do Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério Público do Trabalho. O médico do trabalho Roberto Ruiz, que já atuou em Jaraguá do Sul, fez um relato sobre a história da LER no Brasil.

De acordo com a secretária estadual de Saúde da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Ana Roeder, a intenção é lutar pela implantação de uma política estadual de prevenção e combate aos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. Ela enfatizou a necessidade de exigir um local de trabalho sadio, com funcionamento efetivo das Cipas (Comissões Internas de Prevenção de Acidentes) e fez um alerta aos trabalhadores: “Saúde não se vende nem se negocia, é um direito do trabalhador”.

Na avaliação do presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, Neodi Saretta, as audiências públicas têm a finalidade de mapear dados, cobrar competências, fiscalizar e propor soluções para, no mínimo, diminuir o número de acidentes e doenças do trabalho e o sofrimento dos trabalhadores e trabalhadoras. “O direito à saúde está na Constituição. É dever do Estado promover a saúde dos trabalhadores, mas não exclui o comprometimento da família, da sociedade e especialmente das empresas”, afirma o parlamentar.

Como uma epidemia. É alarmante o grande número de notificações. Somente em 2011, foram nada menos que 711 mil acidentes de trabalho em todo o Brasil, sendo 27 mil em Santa Catarina. Desse total, 2,8% são de doenças do trabalho, percentual considerado ínfimo diante do grande número de lesionados do trabalho. Saretta informa ainda que a Frente Parlamentar, criada em outubro do ano passado, já solicitou ao Ministério da Saúde, um estudo aprofundado sobre o assunto, criação de Frentes em todos os estados do Brasil e a inclusão do tema sobre prevenção e saúde do trabalhador no currículo escolar.

De acordo com o médico do trabalho, Roberto Ruiz, as doenças e acidentes de trabalho sempre existiram (os escribas tinha LER), mas foi apenas no início da década de 80 que passou a ser considerada quase uma epidemia devido ao grande número de casos e do aumento desenfreado do problema. “A explosão se deu a partir do neoliberalismo, com a maximização da automação e informatização e o desemprego estrutural”, explica o médico.
Mas foi somente em 1987 que o sistema público de saúde, o INSS, reconheceu oficialmente as doenças do trabalho. A primeira categoria que teve esse reconhecimento foi a dos digitadores.

Ainda de acordo com Ruiz, para mudar a atual realidade, é preciso que os interesses econômicos não prevaleçam sobre as questões éticas ligadas ao mundo do trabalho e é necessária a união entre o movimento social organizado, o poder público e a iniciativa privada.

Também  é preciso um suporte assistencial, grande capacidade de intervenção e sistema de informação eficiente. “Para intervir, temos que ir direto ao agente causador do mal, isto, no chão de fábrica, onde o trabalhador realiza as suas atividades laborais”, explica o médico. Por enquanto, segundo ele, temos falta de informação, de bons programas de atendimento e de intervenção no local onde o risco é gerado. 

O médico do trabalho também citou exemplos de problemas solucionados em setores como o dos frigoríficos, com a introdução de pausas na jornada de trabalho e dos mineiros de Criciúma, que ocuparam e se apropriaram da mina até que as reivindicações fossem atendidas.

Realidade em Jaraguá do Sul

O grande número de acidentes e doenças do trabalho é uma realidade que preocupa cada vez mais o movimento sindical e deprime as vítimas, que se sentem impotentes para levarem adiante as suas vidas, tanto no aspecto profissional como pessoal. O trabalhador S.K tem 48 anos de idade e está com a saúde comprometida ao ponto de ter o movimento dos dois braços limitados.

Depois de 21 anos de trabalho pesado, ele atualmente está afastado da empresa, mas sem salário. As dores são constantes. Toma remédio para dormir, para dor e para depressão. Está tentando resolver o problema pagando consultas e exames particulares porque os médicos da empresa não fornecem laudos favoráveis. “O que eu quero é a minha vida de volta. Voltar a trabalhar e deixar de sentir dor”, afirma.

Da mesma situação partilha a costureira R.D, com 13 anos de trabalho em uma grande fábrica da região. Ela tem 38 anos de idade e não consegue mais executar tarefas simples, como limpar a casa, varrer e muito menos exercer a função profissional. Afastada do trabalho, mas sem auxílio doença, ela sofre por sentir dor o tempo todo e também porque a doença tem lhe tirado até a vontade de continuar vivendo. “Estou muito deprimida”, confessa a costureira, casada e mãe de um filho

Fonte: Fittel

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