No fim de semana anterior
passou, no Alta Definição, uma entrevista emocionante. Como é costume em Daniel
Oliveira, a emoção, a proximidade e a envolvente foram traços fortes ao longo
da conversa.
O convidado foi Bernardo Pinto Coelho. Um
verdadeiro herói. Vive hoje com um drama que não dá para imaginar. Foi
diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica. Era um homem normal, que vivia
como muitos de nós. Vivia, como contou na entrevista, a um ritmo alucinante.
Fruto de muito stress e muita pressão.
É tocante. Por vários
motivos, mas, sobretudo, por um certo lado egotista. E se fosse comigo? E se
fosse consigo? Dá que pensar e muito.
Só quem vive de perto com
uma doença degenerativa consegue percepcionar a luta que o Bernardo tem.
E porquê? São várias as
explicações, com múltiplos entrecruzamentos da economia, ao mercado e a sempre
presente globalização.
Não obstante uma alimentação
cuidada, o stress é hoje uma causa de inúmeras doenças e riscos. Muitas pessoas
sabem bem que cada projeto, cada negócio, cada assunto é sempre prioritário e
para anteontem. A pressão e a competição, quer seja entre empresas, para
atingir determinado cliente ou negócio, quer seja entre colaboradores, para
cair nas boas graças da sua organização, é feroz.
Existe um diapasão que deve
entrar na cabeça dos líderes, nos vários níveis das organizações, e nos
colaboradores: cada pessoa precisa de motivação e de espaço para a vida
pessoal, para ser produtivo e necessariamente mais eficiente.
Há hoje um conceito de
ergonomia emocional que deve começar a entrar nos manuais de gestão. Na busca
incessante pela produtividade, pelo cumprimento de sempre exigentes objetivos e
pelo lucro existem pessoas que fazem as organizações. Que são seres humanos,
com sentimentos, vontades, histórias e valores. Não compreender esta vertente
humana é prejudicar o trabalho em equipa. Existem inúmeros aspectos que
precisam de ser considerados. A segurança e qualidade no ambiente de trabalho,
a medicina do trabalho, a sociologia e a psicologia, a estratégia integrada e
inteligível para todos, uma política de recursos humanos com consciência dos
processos de aprendizagem, integração, fadiga e motivação. São diversos os
temas que merecem um constante acompanhamento, sob pena de se multiplicarem os
casos de burn-out, ou seja, esgotamento.
Recentemente, o Professor
Jorge Araújo escreveu um livro assaz interessante. Questionava ele se os sentimentos
também se treinam. É uma pergunta pertinente, porém trata-se sobretudo de uma
chamada de atenção, mormente para quem lidera. Um líder não existe sem as
pessoas. E não vai muito longe sem a motivação dos seus colaboradores. Esta
motivação vem de diversas formas, não só através de níveis remuneratórios ou
prémios, mas também pelo reconhecimento do mérito e pelo trabalho bem
executado, pelo respeito e a sensibilidade no trato pessoal, designadamente nos
temas pessoais que nos afectam a todos. Quantos não são os casos de pessoas que
adiam avançar para uma gravidez por não terem condições, nem tempo para
cuidarem dos filhos? Quantos são os casos de depressões causadas pela pressão
constante ou pelo mau ambiente no trabalho? As pessoas não são máquinas, não
basta carregar num botão. E ainda bem. As máquinas são um auxiliar, uma ajuda
para tornar o trabalho humano menos penoso. Servem para otimizar o tempo, criar
eficiência na resposta, mas não há nenhuma máquina que não tenha sido inventada
por uma pessoa e que não precise de ser verificada por um humano.
O trabalho é sempre para
anteontem. No entanto, o dia é hoje e está à nossa frente para ser vivido com
intensidade.
Fonte: http://expresso.sapo.pt/
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