O Ministério da Previdência
divulgou em outubro os dados mais recentes sobre saúde e segurança no trabalho.
O número de acidentes em 2012 caiu um pouco, mas superou a casa dos 700 mil
pelo quinto ano seguido – eram 400 mil dez anos atrás. As mortes no trabalho
somaram 2.700. Esses são os números oficiais, que indicam apenas os registros
feitos pelas empresas, e certamente ficam abaixo dos reais, uma vez que parte
das ocorrências não é notificada. O cenário mostra que as mudanças ainda tardam
a chegar no campo da saúde e da segurança, embora sejam identificados progressos
em alguns setores, com acordos tripartites visando à prevenção. Mas o “novo”
mercado de trabalho intensificou o aparecimento de doenças, ligadas
principalmente ao estresse e à aceleração do processo produtivo.
Se o período comparado for o
dos últimos 25 anos, o número de acidentes cai quase 30%: de 992 mil, em 1988,
para 705 mil em 2012. Mas o total de doenças relacionadas ao trabalho sobe
200%: de 5 mil para 15 mil. Esse crescimento pode estar relacionado à expansão
da mão de obra. O país registrou 47,5 milhões de trabalhadores formais no ano
passado, ante 29,5 milhões uma década atrás. Nos anos 1990, esse número
oscilava entre 23 milhões e 25 milhões. A expansão do mercado de trabalho é
acompanhada também pela do sistema previdenciário, que hoje alcança mais de 60
milhões de contribuintes.
“Nos períodos de crise
econômica (entre meados dos anos 1980 e o início dos anos 2000) o número de
ocorrências até diminuiu, mas porque o número de trabalhadores se reduziu”,
observa o médico do trabalho Ildeberto Muniz, que pesquisa o tema pela
Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) de
Botucatu.“As inovações tecnológicas contribuíram também para diminuir o número
de trabalhadores, mas criam novas possibilidades de acidentes. Por exemplo, uma
colheitadeira de cana reduz o número de trabalhadores e, por consequência, de
acidentes com as ferramentas, mas quando acontece um acidente é muito mais
grave”, acrescenta.
Das 705 mil ocorrências
registradas em 2012, quase metade vem do setor de serviços: 345 mil. Foram 221
mil na indústria de transformação e 63 mil na construção civil. Os casos mais
comuns são os relativos a ferimentos, fraturas e traumatismos em punho e mão.
Mas as estatísticas da Previdência já incluem casos como “reações ao estresse e
transtornos de adaptação” e “episódios depressivos”. Nos últimos anos, o total
de afastamentos do trabalho em consequência de transtornos mentais e
comportamentais manteve-se entre 12 mil e 13 mil.
acidentes“A concessão dos
benefícios pagos pela Previdência tem muitos vieses. Há um grande número de
pessoas que teriam direito a eles, mas não conseguem acessá-los. Então, uma
diminuição não significa que os acidentes se reduziram, e sim que a concessão
de benefícios caiu”, observa a pesquisadora Maria Maeno, da Fundacentro,
autarquia especializada em pesquisas relacionadas a saúde ocupacional ligada ao
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Para ela, as doenças, na verdade, têm
aumentado. “E algumas ainda mais, mas não conseguimos mensurar, como as cardiovasculares
e as de saúde mental, devido principalmente a novas tecnologias, que aceleraram
a vida.”
Fonte: Rede Brasil Atual
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