O Brasil passa por um momento
de recepção de grandes eventos em várias áreas, mas o destaque foi, sem dúvida,
a escolhas do país como sede da Copa do Mundo e do Rio de Janeiro para receber
a Olimpíada de 2016. Passamos por momentos de esperança, depois dias de
descrença, voltamos ao alto da montanha no período dos jogos do mundial e
novamente despencamos com o inesquecível 7x1 contra a Alemanha.
O fato é que, durante todo
esse processo, os trabalhadores foram os responsáveis por fazer o Brasil ver
uma Copa sem grandes problemas. Mas, durante o êxtase da população ao assistir
aos jogos em seu país, algumas famílias não fizeram parte da festa: os entes
queridos dos trabalhadores mortos nas construções de estádios.
Foram nove as mortes no total,
sendo quatro só na Arena Manaus. As causas, infelizmente, foram as já
tradicionais dos acidentes de trabalho: falta de prevenção, treinamento,
material de segurança e respeito às regulamentações do Ministério do Trabalho.
Somado às causas citadas,
entrou um novo fator na equação dos acidentes na Copa do Mundo: a pressa. Com o
planejamento mal executado e atrasos nas licitações, sobrou para os
trabalhadores o ônus de fazer as obras serem concluídas a tempo. É emblemático, nesse sentido, o caso
do jovem de 22 anos, Marcleudo, que sofreu queda de 35 metros de altura no
inacreditável horário das quatro da madrugada, em local pouco iluminado e com
cinto de segurança de difícil encaixe.
Pode-se perceber, portanto,
que, com os grandes eventos, não recebemos a cultura de prevenção de acidentes
e respeito ao trabalhador por parte das empresas. Pelo contrário. Segundo dados
do Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho (AEAT) de 2012 do Ministério da
Previdência Social, no ano de 2006 tivemos 29.054 acidentes na área de
construção, número altíssimo que, assustadoramente, mais que dobrou nos seis
anos seguintes: 62.874 acidentes em 2012. Não contabilizadas, por óbvio, as
subnotificações.
Nesse sentido, não pode ser a
falta de mortes e acidentes que justifica a ausência de uma prevenção por parte
das empresas e do Estado. É urgente que haja uma maior valorização da vida e da
integridade física do trabalhador enquanto cidadão que presta um serviço, não
um bem que, depois de adquirido, pode estar exposto a todos os tipos de risco,
principalmente os facilmente evitáveis.
Em entrevista ao site da BBC
Brasil, um pesquisador e fiscal de segurança no trabalho disse que “a maioria
dos óbitos poderia ter sido evitada — possivelmente, todos — se normas básicas
de segurança (as Normas Regulamentadoras previstas na legislação trabalhista,
CLT) tivessem sido obedecidas.
Infelizmente, porém, a
história começa a se repetir na preparação do Rio de Janeiro para receber a
Olimpíada de 2016. Há flagrantes atrasos que, provavelmente, gerarão os mesmos
quadros do mundial: a pressa na finalização das obras como prioridade em
detrimento da segurança e respeito às normas trabalhistas.
É urgente exigir um maior
comprometimento com a prevenção de acidentes de trabalho por parte das empresas
e do Estado, como empregador e fiscalizador. No ano de descomemoração do golpe
civil-militar em 1964 e já com início dos preparativos conturbados para a
Olimpíada de 2016, cabe a célebre frase: "Para que não se esqueça, para
que nunca mais aconteça".
Por: João Tancredo
Fonte: Jornal do Brasil
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