Mais de 500 especialistas
contribuem com dicionário sobre o tema da saúde e segurança no mundo do
trabalho. Um dos autores observa que hoje é mais comum o adoecimento por
fatores emocionais
No mês em que as vítimas de
acidentes do trabalho são lembradas, um livro com mais de 500 autores procura
detalhar o assunto. O Dicionário de Saúde e Segurança do Trabalhador já foi
lançado em São Paulo, Campinas (SP), Rio de Janeiro, Natal, João Pessoa,
Maceió, Aracaju e Salvador e amanhã (11) chegará a Salvador. Na sexta-feira
(13), em Curitiba e na próxima segunda-feira (16), em Brasília. Para um dos
autores, Nilton Freitas, o sistema de proteção avançou, especialmente no
Brasil, mas o mundo do trabalho ainda convive "com o século passado".
Essas melhorias, em boa parte,
estão relacionadas a acordos em alguns setores de atividade. "O sistema
normativo, com complementos aditivos, melhorou bastante. Esses normas avançaram
no sistema de gestão, deixou de ser pontual. Importante dizer que foram acordos
tripartite (trabalhadores, empresários e governo)", observa Nilton que é
representante regional da Federação Internacional dos Trabalhadores da
Construção e Madeira (ICM).
Ele também cita a criação da
Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast), no âmbito do
Sistema Único de Saúde, e a expansão dos Centros de Referência de Saúde do
Trabalhador e, no sistema previdenciário, a figura do nexo técnico, prevendo
maior punição. "Nesse conjunto de forças houve uma melhora. Pelo menos,
uma mudança de perfil. Mas o velho mundo continua existindo. A OIT (Organização
Internacional do Trabalho) discute o futuro do trabalho, a indústria 4.0, mas
na região a gente continua convivendo com séculos passado, com condições
precárias", acrescenta.
Hoje, há outros fatores que
afetam a saúde do trabalho, lembra Nilton. "Antigamente, a pessoa se
contaminava involuntariamente. Hoje, ela usa calmantes, tranquilizantes, a
pessoa se droga. A própria manutenção do emprego é um fator (de estresse). A
forma de adoecimento ou de sofrimento é mais emocional. O desemprego é uma
forma de adoecimento", observa o diretor da ICM, que já assessorou sindicatos
e atuou no Ministério do Trabalho.
Para ele, a própria
"reforma" trabalhista, além de enfraquecer os sindicatos, também
debilita a fiscalização do trabalho. A política do atual governo também atua
contra o Estado regulador de um sistema de proteção social. Com isso, o Brasil,
a exemplo de outros países, caminha para "a desregulamentação, a ausência
de proteção". "É para onde estamos indo", acrescenta.
Organizado pelo médico René
Mendes, da Associação Brasileira de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora
(Abrastt), o Dicionário tem 1.280 páginas e 1.237 verbetes. "Este livro
partiu da percepção de que há uma carência muita grande de textos relacionados
à área para um público muito além dos médicos do Trabalho", disse o autor
à revista Proteção.
Acidentes
De acordo com o Ministério
Público do Trabalho, ocorre um acidente no país a cada 48 segundos, com uma
morte a cada três horas e 38 minutos. O coordenador nacional de Defesa do Meio
Ambiente do Trabalho, Leonardo Osório Mendonça, cita inclusive a morte do
ativista norte-americano Martin Luther King, que completou 50 anos no último
dia 4.
"Poucos sabem que o
motivo que o levou até Memphis, local do seu assassinato, foi uma greve
ambiental, em que empregados de limpeza urbana reclamavam melhores condições de
trabalho. Eles carregavam o lixo na cabeça, o chorume escorria, mas não tinham
onde tomar banho." Ainda segundo o coordenador, mais de 90% dos acidentes
poderiam ser evitados, se fossem seguidas as medidas das normas
regulamentadoras do Ministério do Trabalho.
O presidente do Tribunal
Superior do Trabalho (TST), ministro Brito Pereira, defende uma "mudança
de hábitos" no ambiente de trabalho. "Muitas vezes, empregadores e
empregados acabam ignorando o perigo gerado por uma atividade de risco. É
preciso mudar essa cultura, pois, para que o acidente aconteça, basta um
descuido."
Fonte: Rede Brasil Atual
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