Segundo OIT, são 6,3 mil
trabalhadores mortos por dia, o equivalente a 2,3 milhões por ano. Para
especialistas, o Brasil, 4º colocado no ranking, pode ter situação piorada com
a "reforma" trabalhista
O Brasil é o atual quarto
colocado no ranking de acidentes de trabalho no mundo e a situação pode piorar
em função da "reforma" trabalhista que já está em vigor no Brasil.
Esta é a conclusão de especialistas reunidos nessa terça-feira (24) na Comissão
de Direitos Humanos e Participação Legislativa do Senado.
"A OIT diz que nós temos
6,3 mil mortes por dia, 2,3 milhões de mortes por ano (no mundo). É mais do que
qualquer conflito bélico. Ouso dizer, nessa época de beligerância internacional
com o conflito entre Síria e Estados Unidos, se alguém quiser matar seres
humanos não precisa desenvolver arma química, basta abrir uma empresa e não dar
saúde e segurança porque os números da OIT mostram a carnificina que é a
realidade do trabalhador sujeito a essas condições", disse o chefe da
Divisão de Ações Prioritárias da Advocacia Geral da União (AGU), Fernando
Maciel.
Em relação ao Brasil, segundo
dados do último Anuário Estatístico da Previdência Social (Aepes), durante o
ano de 2016 foram registrados 578,9 mil acidentes do trabalho no INSS.
Comparado com 2015, o número de acidentes de trabalho teve uma redução de quase
7%. No entanto, segundo Maciel, não são números para se comemorar, já que o
índice de subnotificações é muito alto. "Infelizmente, as estatísticas que
temos representam apenas a ponta de um iceberg, a parte visível não nos dá a
exata dimensão desse problema", explicou.
De acordo com Maciel, as novas
regras estabelecidas pela nova legislação trabalhista devem agravar esse
quadro. "Por exemplo, a liberalização da terceirização para qualquer
atividade, sabemos que hoje ela é uma forma de empreendimento empresarial que
mais mata no Brasil. De cada dez mortes entre trabalhadores no Brasil, oito
envolvem trabalhadores terceirizados. Já temos estatísticas no setor elétrico e
petrolífero que evidenciam isso", relatou.
Mas este não é o único ponto.
"Outro fenômeno é a jornada 12x36, que é o que está vigendo agora com a
perda de efeito da Medida Provisória 808. O segmento econômico que mais
registra acidentes de trabalho no Brasil é o hospitalar, que coincidentemente é
aquele que há um bom tempo vem fazendo uso da jornada 12x36. É óbvio que um
trabalhador atuando 10, 12 horas vai estar mais cansado, fadigado, por
consequência mais suscetível de sofrer um acidente de trabalho."
A vice-coordenadora nacional
de Defesa do Meio Ambiente de Trabalho do Ministério Público do Trabalho,
Juliana Carreiro Corbal Oitaven, destacou que o MPT desenvolveu, em parceria
com a OIT, um observatório de saúde e segurança do trabalho, e falou das
dimensões sociais e também econômicas do alto número de acidentes de trabalho
no país. "De 2012 a 2017 houve
14.412 mortes acidentárias notificadas e 3,8 milhões de acidentes de trabalho,
e em razão deles houve um gasto de 26 bilhões de reais somente com benefícios
acidentários", apontou. "A pessoa que se acidenta não se acidenta
sozinha, envolve sua família, seu empregador e a sociedade que acaba pagando
por aquele benefício previdenciário. Por isso, temos que nos envolver de uma forma
conjunta na temática."
Juliana também mencionou a
importância de se exercer o chamado direito de recusa nas atividades laborais.
"O direito de recusa está previsto em normas internas e internacionais. A
partir do momento em que o trabalhador identifique uma situação que o coloque
em risco grave ou iminente pode se recusar a fazer aquela determinada atividade
até que o empregador modifique aquelas condições."
O diretor do Sindicato
Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait) Francisco Luis Lima disse
que 4% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) mundial é perdido em acidentes de
trabalho. Segundo ele, esse custo no Brasil chega a cerca de R$ 200 bilhões por
ano.
Com informações da Agência
Senado e Rede Brasil Atual